Como julgar a qualidade de uma Fotografia

Para quem é fotógrafo parece piada. Mas algo plenamente plausível dentro dos delírios tecnológicos paridos pelos engenheiros de softwares. Eis que surge o ACQUINE (AesthetiC QUality INference Engine, Algo como: Máquina de Inferência de Qualidade Estética, numa tradução livre) e foi desenvolvido por uma equipe da Penn State University. Chega de achômetro! A ferramenta traz como proposta determinar de modo automático - pasmem - o valor estético de uma foto!! Isso já existe e é público desde abril. A novidade tem circulado nas listas de discussão de fotografia, como a fotoclic e a fototech. É a partir de lá que nos motivamos para escrever este post.

Marcela escreveu:Tá aí mais um concurso: quem conseguee a maior nota na avaliação do programa.... hehehehehe!

Fernando Nunes escreveu:Eu vou postar a ficha de avaliação usada em concursos e salões. Acho que isso poderá dar um norte!

Muito se tem discutido neste e noutros fóruns como comentar uma fotografia, a falta de comentários e outras coisas do género.

A primeira questão reside em não banalizar a imagem. Quando um user coloca no fórum todas as imagens que faz nesse fim de semana, em nada está a contribuir uma uma crítica saudável. Depois há que saber ouvir os comentários. Nós deixámos de comentar quando começámos a receber e-mails pessoais no nosso site, alguns deles pouco agradáveis, e (curiosamente) nem sempre dos autores das imagens. Por último é preciso saber comentar. De nada servem a um fotógrafo os comentários de 5*, fantástico, excelente, etc. Podem ser óptimos para o seu ego, de pouco servem para a sua técnica e estética fotográfica.

Aqui reside a primeira grande questão da crítica. Quando se critica uma fotografia, uma pintura ou uma escultura, devemos criticar a obra e não confundir o nosso gosto com a qualidade. Dizer que gosto, logo é bom, ou que não gosto logo é mau, só revela ignorância. Eu posso não gostar de uma fotografia, no entanto reconhecer que ela é uma excelente fotografia. Se nos perguntarem se gostamos, então sim, é o nosso gosto. Se nos pedirem para analizarmos, há que colocar o nosso gosto de lado e criticar a obra. Eu posso não gostar de Picasso, mas seria uma imensa estupidez dizer que ele era mau pintor só porque eu não gosto. Por outro lado, por vezes uma imagem pode não nos dizer nada porque não estamos prepardos estéticamente para a compreender.

Também ouço por aqui, como justificação para uma crítica menorizada, de que se é amador (não seremos todos?), ou se tem poucos conhecimentos para nos reduzirmos ao gosto. Não custa muito (a não ser tempo em discussões e formação específica) aprender a analizar uma imagem. Ao contrário do que se diz por vezes a fotografia tem regras, tal como a pintura, e elas podem ser apreendidas.

Gostava ainda de enumerar aqui algumas questões relacionadas com a análise de imagens. Uma imagem não é boa só porque preenche um destes ítens. Ela será boa porque os reúne a todos e ainda mais alguns que não cabem aqui enumerar. Sublinho, ela será boa pelo somatório de todos eles.

O primeiro será a emoção que a fotografia transmite. Em arte existem básicamente duas correntes sobre este assunto. Uma que diz que o sentimento do fotógrafo deve chegar à pessoas que vê a imagem, e outra que diz o contrário, argumentando que se o fotógrafo estiver a pensar no público se está a limitar na sua actividade criativa. De acordo estas duas correntes defendem que uma imagem tem sempre de provocar um sentimento em quem a vê. E isto é uma coisa que tem de ser educada em cada um de nós.

Outra questão será a composição, cuja análise a grosso modo pode ser facilitada pela transformação dos objectos em pontos e linhas, e assim compreender a relação estabelecida entre eles. A isto se junta a regra dos terços, os pontos fortes, a leitura do movimento, etc. etc. É evidente que a composição deve ser cruzada com as novas estéticas, quanto mais não seja para contrariar o classicismo. O formalismo ou não e a inovação estética são outras duas componentes que encaixam aqui. Também na técnica se analiza a impressão das imagens e a sua relação com a iluminação do espaço de exposição, coisa que o écran do computador dispensa.

O disparar no momento certo, o respeito pelos objectos / pessoas, a expressividade, a luz, analizada pela sua qualidade e tridimensionalidade que pode conferir a um objecto, são também aspectos que são importantes na análise. Juntemos ainda o conceito do trabalho ou das imagens muitas vezes a base de um trabalho autoral e começamos a compreender a dificuldade de analizar uma imagem. Pessoalmente quando vejo uma exposição com cerca de 20 a 30 imagens nunca demoro menos de uma hora a analizá-las.

Pensemos em tudo isto antes de despejarmos imagens da net. E se este longo escrito puder contribuir para que passemos a analizar melhor as imagens aqui expostas, para além dos básicos excelente ou gosto muito, então o objectivo foi conseguido e o fórum está de parabéns.

Uriartt escreveu:EHEHEH Pelo que vi a avaliação está no histograma... EHEHEH algo bem balanceado no conceito do sistema vai se dar bem. Nessa o programador não foi muito feliz... Concordo com a Marcela.